Existe algum político conservador no Congresso?

30 10-2014
Existe algum político conservador no Congresso?

Por Julie Maria

Tornei-me militante política nesta última eleição, a partir da possibilidade de o meu irmão se candidatar. De um minuto para outro consegui ver aquilo que meu pai, marqueteiro político, vinha me dizendo há anos: se você não participar, nada irá mudar.

Mas o desânimo frente a tanta podridão na política era tão grande que tinha me cegado. Só a real certeza de que alguém não iria se corromper, caso fosse eleito, me fez converter e começar a ser militante na política.

Ser militante é viver com a convicção de que, se eu fizer a minha parte, algo poderá mudar. Mas, qual é a minha parte?

Primeiro, conhecer os candidatos que posso eleger e depois acompanhar o seu mandato para ver sua credibilidade. Com uma pequena ressalva: muitas propagandas de políticos dizendo “fiz isso, fiz aquilo” não somam pontos positivos para eles, pois com a verba que o Governo Federal dá aos Estados muita coisa que fazem é apenas sua obrigação, e não virtude. Por exemplo: construir ferrovias ou asfaltar ruas é obrigação, mas não vi nenhum político construindo parquinhos nas praças públicas de seu município. É o atestado de incompetência que eles mesmos se dão.

Mas a minha militância se torna ainda mais complexa: sou uma mãe católica.[1] e quero ter no Congresso políticos que me representem, que lutem pelos meus direitos, quero que as minhas escolhas, fundamentadas na minha fé, sejam protegidas pelas Leis do meu país.

É aqui que a coisa se complica. Enquanto para o mundo qualquer opinião a favor da família – tal como Deus a criou – ou contra o assassino de crianças por suas mães – o aborto – é tida como politicamente incorreta, eu não me contento com candidatos que se dizem católicos mas não estão em comunhão com a Santa Igreja em t-u-d-o. Sim, melhor ser uma minoria coerente do que uma maioria morna, ou, como diria São Paulo, homens que, “levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si (II Tim 4, 3). Neste caso, políticos que ajustarão “coligações” para si.

Estou cansada de ver candidatos católicos que na prática decepcionam por sua incoerência doutrinária. Eles desconhecem que existem princípios não negociáveis que no âmbito político devem prevalecer – se queremos que as Leis estejam a serviço da dignidade humana e não contra ela. Explicitados pelo Papa Bento XVI[2] são ele:

  1. Tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural;
  2. Reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimônio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível;
  3. Tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos.

Tais princípios, recorda nosso amado Papa emérito, “estão inscritos na natureza humana e, portanto, são comuns a toda a humanidade.” Daí a obrigação moral de o candidato católico lutar por estes direitos, dando a sua vida se for preciso por eles.

Quando vi o Deputado Bolsonaro defendendo a família de forma tão valente, senti uma grande admiração, porém ela logo se evaporou ao ler que este mesmo cidadão se orgulha de ter uma Proposta de Emenda Constitucional a favor da laqueadura e da vasectomia, como se fosse um grande avanço para o “Planejamento Familiar”[3].  Para este Deputado, “Planejamento Familiar” se resume a não ter filhos, exatamente o oposto da Doutrina, que afirma serem os filhos “o dom mais excelente do Matrimônio”. (CIC 1652)

Exemplo da falta de candidatos católicos se deu no último debate presidencial no SBT. Quando a Dilma fez uma pergunta referente à violência contra a mulher, era o momento oportuno para o Áecio mostrar a incoerência dela: como se quer proteger as mulheres da violência ao mesmo tempo que seu Governo estimula estas mesmas mulheres a cometerem a maior violência que pode haver, isto é, o assassinato dos seus filhos ainda no ventre?

Pergunto-me se os milhões de eleitores que decidiram não ir às urnas não estão esperando, como eu, que surja um partido realmente capaz de fazer o que a boa política exige: o cuidado do bem comum sobre os interesses particulares. As minorias estão muito bem representadas no Congresso, mas a maioria católica não.

Até quando vamos ter que esperar?

Estou ansiosa para gastar minhas energias em prol de um Partido que tenha candidatos à altura da minha militância.

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[1]Para os acham que Estado secular é sinônimo de secularismo o professor Michael Sandel, de Harvard, já ditou o rumo para o debate no século 21: “A política precisa se abrir à religião”. (Cf. http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/07/politica-precisa-se-abrir-religiao.html

[2]http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2006/march/documents/hf_ben-xvi_spe_20060330_eu-parliamentarians_po.html

[3] http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/campeao-de-votos-no-rj-bolsonaro-diz-que-concorda-com-levy-fidelix-e-que-ajudou-jean-wyllys-09102014

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