Qual idade para começar a namorar?

25 07-2012
Qual idade para começar a namorar?

Por Julie Maria

Numa sociedade onde se estimula as crianças desde cedo a viverem imersas numa promiscuidade – na qual o “ficar” é moda e onde todos os programas de TV para eles têm apelativo de depravação sexual –, os pais devem ter em claro sobre quando devem deixar seus filhos namorarem e os filhos devem acolher a autoridade dos pais como a vontade divina, da qual os pais devem ser fiéis intérpretes.

Para se responder a esta pergunta é preciso antes saber o que é namoro. O namoro é o tempo vivido com uma pessoa do outro sexo para se conhecerem melhor, e isso exclui qualquer contato físico íntimo, pois o conhecimento da outra pessoa no namoro é o de sua personalidade, sua fé e seus valores. Sabemos que qualquer contato físico gera o desejo carnal de aumentar tal contato, por isso, como bem ensina o padre Lodi, para quê ligar o motor do carro se você não vai poder dirigi-lo? Se o casal de namorados que está acostumado a se abraçarem e a se beijarem não conseguem vislumbrar um namoro sem este tipo de contato é justamente porque nunca o experimentou: a menina ou o menino que jamais se abraçaram ou beijaram conseguem muito mais facilmente viver um namoro perfeitamente casto, pois não experimentaram o desejo que este tipo de união gera e mantém a santa liberdade e pureza necessária para tomar a decisão se vale a pena ou não continuar com o namoro.

O homem (assim como a mulher) que no vigor de sua juventude vive uma vida dissoluta, como pode, mais tarde, estabelecer um santo e “casto esponsal” na fidelidade conjuga?[1]

Tendo presente isso e tendo claro que a meta do namoro é que o casal de namorados se conheça para, caso discirnam, se casem, a resposta sobre a idade certa para começar o namoro é esta: a idade que aquela moça e aquele rapaz já estejam preparados para casar e para terem filhos. Isso não significa que tenham que ter casa própria e cursado a faculdade – o que o mundo moderno logo entende por “estar preparado”. Estar preparado significa que eles estão maduros como pessoas para se unirem de forma definitiva pelo sacramento matrimonial. Fora disso, qual razão a não ser para perder sua pureza, guiaria um jovem ou uma jovem a ficar namorando indefinidamente? Se não devemos mexer com fogo para não nos queimar logicamente não devemos permitir que duas crianças – de 10, 12 ou adolescentes de 15 anos – entrem em um relacionamento que, durante este tempo, só gerará intimidades inapropriadas para sua idade, idade em que eles estão em plena formação de suas personalidades e não teriam condição nenhuma de se casarem. Estas idades são próprias para cultivarem amizades autênticas, especialmente com pessoas que são boa influência para eles. E por isso “namoro-namorado” não se deve nem ser motivo de brincadeira para eles, afinal namoro é coisa séria.

O que deve ser feito nestas idades é uma preparação adequada e progressiva para que estas crianças tenham a capacidade de, após um casto namoro, casarem-se conscientes de suas obrigações neste novo estado de vida. Já lamentava o Papa Pio XI como ninguém se torna engenheiro, mecânico, advogado ou médico de um dia para outro, mas muitos rapazes e donzelas se casam sem terem pensando nem um instante em se prepararem para os árduos deveres que os aguardam na educação dos filhos. Namorar é coisa séria e como tal deve ser ensinado aos filhos.

Por isso, para evitar que nossas crianças sintam – e caiam – na tentação de namorarem cedo demais ou despreparadas é preciso:

1.Ser exemplo como família. Se os esposos se amam e os filhos “vêem” isso, será mais fácil falar-lhes do ideal do matrimônio e da beleza da vida familiar e como é necessário um namoro casto para saber esperar pelo “esposo-esposa”.

“ O exemplo dos pais! Quem não consegue enxergar sua  insubstituível eficácia?As orações dos pais com os filhos, a fidelidade consciente na obrigação dos Dias Santos, linguagem respeitosa no falar de religião e da Igreja, serenidade e diligência, e honesta, honrada, irrepreensível conduta de vida.”[2]

2.Manter um diálogo sempre sincero e adequado segundo a idade de cada um dos filhos para que eles tenham a liberdade de fazer perguntas aos pais e não “aos amiguinhos”, ou que pelo menos possam tirar suas dúvidas quando elas surgirem. Melhor ainda é quando os pais já antes dos filhos terem inquietude nestes assuntos podem oferecer a melhor resposta. A Igreja ensina que, no campo da educação sexual, os pais devem conversar com os filhos e as mães com as filhas sobre estes temas, sempre com muita delicadeza. Meditemos um trecho do ensino do Papa Pio XII em uma locução às mães:

Mas chegará um dia em que este coração de criança sentirá em si o despertar de novos impulsos e de novas inclinações que perturbam o lindo céu da primeira idade. Naquele perigo, oh mães cristãs, recordem que educar um coração é educar a vontade contra as trapaças do mal e as insídias das paixões; naquele passo da inconsciente pureza da infância à consciente e vitoriosa pureza da adolescência, vosso dever será da máxima transcendência. Pertence a vós preparar vossos filhos e vossas filhas para atravessar com valor, como quem passa entre serpentes, aquele período de crise e de transformação física sem perder nada da alegria da inocência, mas conservando aquele instinto natural e peculiar do pudor com o qual a Providência quis proteger sua frente como com um freio contra as paixões fáceis demais de desviar-se. Tal sentimento do pudor, delicado irmão do sentimento religioso, com seu espontâneo recato em que tão pouco se pensa hoje, evitareis que o percam na maneira de se vestirem, nos enfeites, em amizades pouco decorosas, em espetáculos e representações imorais; de fato vós mesmas os fareis cada vez mais delicado e vigilante, sincero e puro. Vigiareis com cuidado seus passos; não deixareis que a candura de suas almas se manche e se perca com o contato de companheiros já corrompidos e corruptores; inspirareis alta estima, zelo e amor à pureza, assinalando-lhes como fiel custódia a proteção maternal da Virgem Imaculada. Finalmente, vós, com vossa perspicácia de mães e educadoras, graças à leal sinceridade do coração que haveis sabido infundir em vossos filhos, não deixareis de perscrutar e de discernir a ocasião e o momento em que certas misteriosas questões apresentadas ao seu espírito terão causado em seus sentidos especiais perturbações. Corresponderá então a vós com vossas filhas, ao pai com vossos filhos – em quanto pareça necessário – levantar cauta e delicadamente o velo da verdade, dando-lhes respostas prudentes, justas e cristãs àquelas questões e àquelas inquietudes. As revelações sobre as misteriosas e admiráveis leis da vida, recebidas oportunamente de vossos lábios de pais cristãos, com a devida proporção e com todas as cautelas obrigatórias, serão escutadas com uma reverência unida de gratidão e iluminarão suas almas com muito menor perigo que se as aprendessem ao azar, em turvas reuniões, em conversas clandestinas, na escola de companheiros de pouca confiança e já muito versados ou por meio de ocultas leituras tanto mais perigosas e prejudiciais quanto seu secreto inflama mais a imaginação e excita os sentidos. Vossas palavras, se são ponderadas e discretas, poderão se converter em salvaguarda e aviso frente às tentações da corrupção que os rodeiam, porque a seta prevista fere menos.[3]

3.Educar os filhos nas virtudes e no espírito de sacrifício. A educação de uma alma – a arte das artes – começa no berço. Por isso quando um filho chega na puberdade e na adolescência, fase onde os hormônios querem ter a “voz final”, se a criança já foi educada nas virtudes ela já terá uma noção do que significa “esperar”. Por exemplo: se você concede tudo o que seu filho quer e na hora que ele quer – seja uma comida, uma bala, um jogo, uma roupa, etc. – ele jamais vai aprender a virtude da paciência. Com certeza, quando bebê ele fará birra, chorará, esperneará por querer na hora dele, justamente porque seus desejos devem ser saciados imediatamente, pois o bebê não reconhece o sentido da “espera”. Mas, educar é justamente trazer à tona o melhor do seu filho e para isso, com amor e firmeza, dia após dia, nas infinitas situações que acontecem, cabe à mãe ir forjando nesta alma a virtude da paciência. De uma maneira simplificada, quem consegue renunciar a sobremesa aos 3 anos poderá renunciar a namorar aos 10, mas ao filho que nunca se diz “não” é impossível fazê-lo entender o sentido e a necessidade da espera.

Escutemos, uma vez mais, as palavras do sábio Papa:

“Eduque o caráter de vossos filhos; atenue ou corrige seus defeitos; aumenta e cultiva suas boas qualidades de coordená-las com aquela firmeza que é prelúdio da seriedade dos propósitos no curso da vida. As crianças, ao sentir sobre si a medida que com o crescer começam a pensar e a querer uma boa vontade paterna e materna, livre de violência e de cólera, constante e forte, não inclinada a debilidades nem a incoerências, oportunamente aprenderão a ver nela a intérprete de uma vontade mais alta, a de Deus: assim é como injetarão e arraigarão em suas almas aqueles primeiros hábitos morais tão poderosos, que formam e mantém um caráter, pronto para dominar-se nas alternativas e dificuldades mais variadas, intrépido para não retroceder nem frente à luta nem frente ao sacrifício, ao se achar penetrado por um profundo sentimento do dever cristão.”[4]

 4.Consagrar diariamente seus filhos ao Imaculado Coração de Maria, Coração puríssimo onde o próprio Deus quis morar. A batalha que temos é contra Satanás – não contra os homens – por isso devemos proteger espiritualmente nossos filhos. O mundo quer roubar-lhes a pureza, pois o inimigo sabe que somente “os puros verão a Deus”. Temos que dobrar nossos joelhos para que nossos filhos sejam não apenas protegidos do mal, mas também, luz e sal já desde a sua infância. Exemplos não faltam na nossa Santa Igreja: o que falta são pais que tomem estes santos como exemplos para seus próprios filhos, leiam suas histórias uma e outra vez para eles, de forma que ambos – pais e filhos – se sintam inspirados para serem santos como eles.


[1] S.S Pio XII, Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958) pg 112

[2] S.S Pio XII, Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958), pg 191

[3] Dante, Paraíso, 17, 27

[4] Tradução nossa. Pode se ler o origial aqui

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