Do trabalho fora do lar para… dedicar-me integralmente ao nosso Lar!

23 10-2016
Do trabalho fora do lar para… dedicar-me integralmente ao nosso Lar!

Por Sharlie Macente 

A vida transcorria normalmente. Eu já havia passado pelos bancos escolares com muito sucesso. Já havia terminado a faculdade que eu escolhi. Já tinha voltado de um intercâmbio de 1 ano no exterior onde realizei o sonho de morar fora, aperfeiçoar o inglês e ter experiência internacional na minha área de atuação.

Daí…

Daí eu resolvi casar…

A decisão de casar e ir morar em uma pequena cidade no interior de Rondônia foi o primeiro passo para a reviravolta em uma vida que havia sido, até então, planejada e executada para ser uma excelente profissional com um carreira bem sucedida na área da Hotelaria. Casar, ter filhos e formar uma família, eram para mim, uma consequência natural da vida. Algo que mais dia ou menos dia iria acontecer, mas que eu não precisava “me preparar” para nada disso. Eu me preparava apenas para o mercado de trabalho.

Estando eu em uma cidade pequena, sem perspectivas para a minha área de formação acadêmica, não me apertei e voltei para a sala de aula em uma escola de idiomas, já que meu primeiro trabalho, aos 14 anos, havia sido como professora de inglês. Logo, fui promovida e além de professora de várias turmas, passei também a ser coordenadora pedagógica.

Foram 3 intensos anos de estudo, preparação de aulas, treinamentos, leituras, longas horas semanais em sala de aula, acompanhamento de professores, de alunos, reuniões com pais de alunos. Intensos porque eu dedicava cerca de 85% do meu tempo (e da minha vida) para aquele trabalho. Eu me sentia feliz e produtiva.

Então, eu engravidei do meu primeiro filho. Mais dia, menos dia ia acontecer, não é? A partir do momento que meu filho nasceu, eu passei a enfrentar uma depressão pós-parto muito profunda. Eu não sabia nada sobre como cuidar de um bebê. Logo a privação de sono se tornou insuportável e eu não sabia como lidar com um bebê que precisava de mim dia e noite.

Havia momentos em que eu preferia mil vezes estar na escola, trabalhando, cuidando dos problemas de uns 200 alunos ao mesmo tempo (afinal, eu era boa naquilo) do que estar cuidando de um bebê que era um enigma pra mim. Mesmo assim, eu seguia cuidando das necessidade físicas e fisiológicas dele.

Quando chegou o tempo de retornar ao trabalho, após a licença maternidade, eu sentia um misto de alegria e tensão. Alegria porque eu ia retornar ao trabalho que eu gostava tanto e a vida ia voltar a ser como era antes (ledo engano), e tensão porque como eu ia deixar um bebê tão pequeno com uma pessoa desconhecida?  Não é este afinal o grande dilema de toda mulher que é profissional e depois se torna mãe? A solução que encontrei foi negociar no trabalho (não foi tão fácil assim) para trabalhar no período da tarde até às 20h. Assim, eu ficaria em casa na parte da manhã com meu filho, à tarde o pequeno ficaria com uma babá na minha casa mesmo e à noite com o papai. Encontrei uma funcionária que se mostrou de muita confiança e então voltei ao trabalho no modelo acima.

Passados uns três meses dessa nova rotina, fui percebendo que eu não tinha mais condições de realizar o trabalho como eu o fazia antes de me tornar mãe. Talvez a carga horária diminuída já não me desse tempo de dar tantas aulas e lidar com tantos alunos. Mais que isso, eu passava a tarde e parte da noite tão envolvida com meu trabalho que eu nem me lembrava que meu filho estava em casa. Ouvia sempre mães falando como é difícil sair pra trabalhar porque ficam pensando o tempo todo na criança que ficou em casa. Eu não. Se nos primeiros dias o meu choro foi inevitável, a rotina do trabalho, a longo prazo, pesou mais e eu fui me dando conta que algo estava errado.

A partir daí, decidi junto com o esposo, que eu deixaria o cargo de coordenação da escola e ficaria com algumas turmas nesse horário de tarde e à noite. Assim, eu esperava que minha cabeça não ficasse tão ocupada com as questões da escola e eu pudesse me voltar mais à relação com meu filho. Aconteceu que de um semestre para outro, o meu número de turmas acabou aumentando, e me vi ainda sobrecarregada com tantos alunos.

Em um processo gradual, eu previa que a tendência seria que eu fosse diminuindo cada vez mais minha carga horária. Eu não sabia bem como isso iria acontecer e tinha também o impacto financeiro na renda familiar. Meu esposo era um advogado jovem, novo na cidade e estava, aos poucos, estabelecendo seu nome na área.

Chateava-me, ao chegar em casa, ver que meu filho falava como a funcionária que cuidava dele. Graças a Deus, ela continua sendo de uma valiosa ajuda, porém, eu invejava o tempo que ela passava com ele e a cumplicidade que os dois tinham. Por mais que eu pensasse no trabalho que ele dava, nas birras que ele fazia, lá no fundo, eu sabia que era eu, a MÃE, a pessoa que tinha que estar a passar mais tempo com ele. O famoso “tempo de qualidade” (dar banho, janta, contar historinha e colocar pra dormir) simplesmente não satisfazia o meu coração.

A esta altura, o meu salário já havia diminuído bastante devido à diminuição da minha carga horária. Totalmente previsto. A maior parte dele servia para pagar o salário e os encargos da funcionária que eu mantinha em casa para cuidar dos serviços domésticos e do meu filho, enquanto eu estava fora trabalhando.

Quando meu filho mais velho completou 2 anos, engravidei novamente. Passei a gestação inteira trabalhando tarde e noite. Sentia que, a partir de quando o bebê nascesse (outro menino), eu não teria mais condições psicológicas de deixar 2 crianças em casa para ir trabalhar. Ao mesmo tempo, várias outras coisas pesavam: como eu, que trabalhava desde os 14 anos de idade, ia deixar de trabalhar para ficar “só” em casa? Como era esse “só” ficar em casa? Eu não sabia como fazer isso, mas também não tinha ouvido coisas agradáveis, na minha vida inteira, sobre “só” ficar em casa. E o dinheiro? Como seria a vida da família com a renda somente do meu marido?

Esposo e eu passamos por um período de muitas conversas. Ele me apoiava caso eu decidisse sair do trabalho e ficar em casa com as crianças. Ele dizia que reconhecia como fora importante o tempo que a própria mãe dele dedicou ao lar e aos filhos em casa. Ao mesmo tempo, eu teria que abrir mão da funcionária que tínhamos em casa em tempo integral. E isso me assustava. Nunca fui dada aos serviços domésticos, mas sempre fui organizada e não gosto de sujeira e bagunça. A responsabilidade do desconhecido, daquilo para o qual eu não havia estudado: cuidar das crianças e da casa O DIA TODO, TODOS OS DIAS, me assustava muito. Como é que se fazia isso? Como é que não se dá a devida importância a essa área na vida das meninas? Por que é que, na maioria das vezes, apenas a vida estudantil da menina é tomada como importante e válida de investimento de tempo e dinheiro? Eram respostas que eu ainda não tinha. Todas estas dúvidas se transformaram em uma profunda angústia, porque eu havia sido formada para ser uma profissional exitosa, mas ser mãe, dona de casa, educadora dos meus filhos… era tudo muito novo para mim.

Meu segundo bebê nasceu. Fiquei  5 meses afastada, de licença. Eu ainda não tinha certeza de como as coisas iriam se resolver. Eu estava empenhada em amamentar meu filho de forma exclusiva até o sexto mês. Essa nova relação com ele me salvou de uma outra crise de depressão e melhorou minha relação com meu filho mais velho. Vencido o tempo da licença, eu voltei a trabalhar. Ainda em um modo mais lento. Mesmo assim, percebi que prejudicaria a amamentação exclusiva do meu bebê. Foi a gota que faltava.

Trabalhei umas semanas e decidi pedir as contas. Faz pouco mais de 2 anos que estou em casa em tempo integral com as crianças. Meu esposo vem melhorando profissionalmente com muito trabalho e aquela minha renda que servia para pagar, em maior parte, o salário de uma funcionária em casa para ocupar meu lugar, não faz falta. É claro que é preciso fazer renúncias, mas a verdade é que estar no mercado de trabalho exige muitos gastos com roupas e aparência em geral para apresentar-se bem. Estar em casa, na maior parte do tempo, poupa economia nesse aspecto e também em questões de saúde, alimentação e gerenciamento do lar.

A maior vantagem, sem dúvida, é estar perto dos meus filhos. Bem perto. Amamentei meu bebê em livre demanda até os 2 anos de idade e ele é meu “chicletinho”. Acompanho de perto a alfabetização do meu maior na escola. Estou presente para explicar e ensinar as pequenas coisas do dia-a-dia, os valores e princípios cristãos. Naqueles momentos valiosos, que passam tão rápido, mas que exigem um “timing”, um “feeling”, uma sensibilidade para não deixar passar em vão.  A formação de um ser humano, no que se refere às virtudes, não acontece em horas pré-determinadas e sim na espontaneidade do dia a dia, e por isso, a minha presença – como mãe educadora – é insubstituível, e foi este despertar que guiou minhas escolhas.

Com certeza, nesse tempo, houve muitos altos e baixos da minha parte. Aprendizado diário, nem sempre fácil. Aceitar que, da teoria à prática, precisa-se de muita paciência, não somente com o esposo e filhos, mas paciência com nós mesmas. Uma coisa de cada vez. Porém, a visão de que existe algo maior do que isso que vivemos aqui e agora, dá-me a certeza de que estou no caminho certo. Mesmo que seja por um caminho estreito, tortuoso e pedregoso de uma mãe mais que imperfeita. Uma mãe que conta com a infinita misericórdia de Deus e a intercessão da Santíssima Virgem Maria para seguir adiante.

Sharlie Macente é rainha do lar, esposa e mãe de dois meninos.

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