Por quê o Papa renunciou? Porque Deus lhe pediu.

04 03-2013
Por quê o Papa renunciou? Porque Deus lhe pediu.
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“Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja com a oração e a reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que procurei viver até agora diariamente e que quero viver sempre.” Papa Bento XVI em sua última audiência geral.

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Quem pensaria que o Cardeal Ratzinger, quando assumiu o Pontificado, não iria morrer nele? Não seria ele mesmo o primeiro a pensar que ele iria se consumir pela Santa Igreja como Papa? Pela lógica sim.

Mas logo no início do seu ministério petrino ele delineou para o mundo o seu governo: “não quero fazer a minha vontade mas a vontade de Deus”.[1] E assim o fez.

Deus lhe pediu para renunciar. Deus lhe pediu para se esconder do mundo e ele, um humilde servo do Senhor, obedeceu. Se esconderá do mundo – frente ao qual ele foi luz – e subirá ao monte para rezar por nós, pela Igreja. Se a debilidade que experimentou pela sua força física lhe fez perguntar ao Senhor que decisão tomar, sua força espiritual é tão poderosa que será capaz de tremer o céu com suas orações.

O amado Papa Bento só pôde renunciar porque é amigo de Deus. Porque escuta a voz divina e sem hesitar torna realidade a vontade dAquele que ele serviu durante toda a sua vida como sacerdote. Os seus atos, suas escolhas, suas decisões são furto de uma oração autêntica, que está aberta à tudo o que o Senhor lhe pede; um diálogo amoroso do filho com seu Pai.

Talvez se tivesse escutado aos homens mais prudentes o Papa tivesse feito outra escolha, e por tantos motivos que podiam parecer justos, teria desagradado a Deus. Quem teve o privilegio de acompanhar o seu Pontificado pôde entrar em seu coração e reconhecer que na vida dele a passagem bíblica que diz que “os caminhos de Deus não são os nossos” é uma doce e árdua realidade. Previamente ao Conclave que o elegeu Papa o seu rumo já estava decidido: iria voltar para sua cidade natal e terminar sua vida ali, entre oração, escritos e música clássica.

Mas ele aceitou o chamado confiando em Deus: “Naquele momento, como já disse várias vezes, as palavras que ressoaram no meu coração foram: «Senhor, o que me pedes?». É um peso grande o que me põe aos ombros, mas se Tu mo pedes, à tua palavra lançarei as redes, seguro de que Tu me guiarás.”[2] 

O Papa Bento seguindo os passos do Mestre jamais buscou aplausos[3] ou buscou um consenso[4] entre os homens: assim como Aquele que o chamou ele foi Papa para dar “testemunho da verdade”. E não houve alguém, com reta intenção, que não se rendesse ao amor estampado em seus gestos, gestos nos quais a verdade era ofertada com a autenticidade dos santos que a vivem.

Papa Bento XVI nos ama e por isso se vai, deixando porém seu maior ensino: a entrega total e definitiva a Deus. Ele renunciou porque não mede com critérios humanos o que Deus pede e sim está aberto à qualquer mudança que seja necessária para que se cumpra a vontade de divina. E finalmente irá viver o santo silêncio numa sociedade surda por tanto barulho, indicando-nos a primazia da oração, se de fato queremos a santidade.[5]

Depois de um profundo exame que lhe exigiu escutar de Deus o que devia fazer ele disse então, mais uma fez, o seu “Fiat”: “Nestes últimos meses, senti que as minhas forças diminuíram e pedi a Deus com insistência na oração que me iluminasse com a sua luz para me ajudar a tomar a decisão mais junta não para meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com a plena consciência da sua gravidade e também da sua novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de tomar decisões difíceis, sofredoras, tendo sempre primeiro o bem da Igreja e não o bem pessoal. (…)Não abandono a cruz, mas fico de um modo novo diante do Senhor crucificado.  Já não levo o poder do ofício para o governo da Igreja, mas no serviço da oração fico, por assim dizer, no recinto de São Pedro.”

Como filhos seus, o único que podemos desejar é sermos dóceis como ele. E o único que podemos lhe pedir é que ele nos leve em seu coração. Mas isso ele já disse que o fará! Te amamos Papa! Deus lhe retribua com o céu sua vida entregue a nós!



[1] Homilia do início do Pontificado: “O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história.”

[3] Papa Bento XVI, Homilia quarta-feira de cinzas: “…Jesus põe em evidência aquilo que qualifica a autenticidade de cada gesto religioso, dizendo que é a qualidade e a verdade do relacionamento com Deus. Por isso, denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer dar nas vistas, as atitudes que buscam o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não procura servir-se a si mesmo ou ao «público», mas ao seu Senhor com simplicidade e generosidade”

[4] Papa Bento XVI, Angelus 3.2.13: “…por que motivo quis Jesus provocar esta ruptura? No início o povo admirava-O, e talvez tivesse podido obter um certo consenso… Mas é precisamente este o ponto: Jesus não veio para procurar o consenso dos homens, mas — como dirá a Pilatos no fim — para «dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37). O verdadeiro profeta não obedece a outros mas só a Deus e põe-se ao serviço da verdade, pronto a pagar pessoalmente. É verdade que Jesus é o profeta do amor, mas o amor tem a sua verdade. Aliás, amor e verdade são dois nomes da mesma realidade, dois nomes de Deus”.

[5] Papa Bento XVI, Angelus  10.7.2007 “Na vida de hoje, com frequência rumorosa e dispersiva, é importante como nunca recuperar a capacidade de silêncio interior e de recolhimento: a adoração Eucarística permite fazê-lo não só ao redor do “eu”, mas em companhia daquele “Tu” cheio de amor que é Jesus Cristo, “o Deus que nos está próximo.”

Confira alguns momentos deste celeste Pontificado:

 

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