1- A chamamento para o matrimônio
Entre as vocações às quais os homens estão chamados pela Providência, o matrimônio é umas das mais elevadas. Pelo matrimônio o homem e a mulher, colaboradores de Deus na procriação dos filhos, são chamados a se santificar mutuamente e recebem, ao mesmo tempo, a missão de formar, pela educação, o coração, a inteligência e a vontade dos filhos que lhe são confiados, até chegar o dia em que os mesmos são finalmente capazes de se conduzir por si próprios.
2- Baseia-se no amor
Porque Deus é amor e porque Ele criou o mundo por amor, quis que seus filhos nascessem do mesmo modo, isto é, pelo amor que une um homem e uma mulher para a vida inteira. Por esta razão, o casamento deve ser considerado com um respeito religioso. Aliás, é consagrado por um sacramento, o sacramento do Matrimônio.
3- Pede longa preparação
Por conseguinte, o homem e a mulher têm de preparar-se antecipadamente e por longo tempo, durante os seus anos de adolescência, para a sublime vocação que fará deles os colaboradores da obra divina. Para preparar-se para isto, o jovem deverá conservar o seu corpo na castidade, aprender a respeitar a mulher, adquirir as qualidades sobre as quais poderá, com toda confiança, repousar o coração da esposa. A jovem deverá ser reservada, cuidar da guarda do seu coração, não procurar as emoções sentimentais sem futuro, mas acostumar-se a missões de devotamento e generosidade, começando no seio da própria família.
4- O que deve ser o amor
O amor não é uma satisfação dos sentidos; também não é um sonho novelesco. É um sentimento forte e profundo, o dom generoso e durável de um só homem para uma só mulher.
Exige que cada um dê ao outro o melhor de si mesmo, aplique-se a lutar contra os defeitos que constituem um obstáculo para a harmonia conjugal, conquiste as qualidades e virtudes que enriquecem o amor e lhe dão todo seu valor moral e espiritual. O verdadeiro amor não se confunde, como amiúde acreditam os jovens, com uma beatitude sem mistura.
É feito de alegrias e penas, de desenvolvimentos e sacrifícios. Os que pretendem não ter do amor senão suas alegrias, o matam antecipadamente; ao passo que aqueles que aceitam seu fardo e seus cuidados, o garantem contra os egoísmos da paixão e as dificuldades da vida.
5- Origem do amor
O amor conjugal não é uma invenção humana. É querido por Deus. É desvio de seu fim natural não procurar nele mais do que a satisfação dos desejos da paixão, sem fazer por onde gerar filhos e se consagrarem os esposos à sua educação, dando-lhes o melhor de si mesmos.
II – A PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÔNIO
1- O valor do amor depende do valor das almas
Se há tantos matrimônios que não perseveram, é porque não foram preparados e porque os que se uniram não tinham compreendido as suas exigências morais e espirituais. É preconceito corrente que o amor aparece e desaparece sem se saber como e sem que seja erro de ninguém. A verdade é inteiramente outra. Se o aparecimento do amor é sempre resultado de um encontro fortuito ou preparado, a sua duração e profundidade dependem do valor das almas e da maneira de como elas se preparam para amar.
2- Os erros dos jovens
Para um jovem, não é preparação para amar multiplicar os prazeres sensuais nos dias da sua adolescência. Tais falsos prazeres, que se pretendem justificar pelo odioso provérbio: “é preciso gozar a juventude”, desenvolvem hábitos de prazer egoísta e sem responsabilidade, que terão por resultado diminuir o respeito devido à esposa e a si próprio. Dando livre curso aos instintos inferiores, os adolescentes diminuem as delicadezas de coração e o controle da vontade. Preparar-se para amar é aprender a respeitar-se a si mesmos e fazer-se respeitar pelo outro sexo; é forjar sua vontade com vista às obrigações futuras; é amar antecipadamente aquela que é ainda desconhecida, por fidelidade antecipada; é conquistar as qualidades de coragem, de lealdade, de domínio de si e de abnegação sobre as quais se apoiará, um dia, o coração da esposa.
3- Os erros das jovens
Para a jovem, preparar-se para amar é habituar seu coração para todas as delicadezas da fidelidade. Provocar e perturbar o sexo forte com jogos de sedução não é aprender a amar; nem multiplicar, pelo namorico, as falsas emoções da sensibilidade; nem sonhar com paixões amorosas irrealizáveis. O coração não vive senão pelo dom de si. Ora, para aprender a devotar-se, a jovem deverá exercitar-se no devotamento sob todas as suas formas. A moça que não souber esquecer-se de si mesma no decorrer de sua adolescência, não o saberá fazer na sua vida familiar.
4- O amor é enriquecimento mútuo
O amor não vive se não for alimentado pelo enriquecimento mútuo do marido pela esposa e da esposa pelo marido. Muitos casamentos falham porque os noivos não possuem as qualidades que teriam enriquecido e feito desabrochar a alma do seu cônjuge.
5- Como se preparar
Por isso, os jovens e as jovens devem aplicar-se em desenvolver ao máximo, durante seus anos de adolescência, as qualidades próprias de cada sexo. O homem deve se forjar uma personalidade forte e corajosa, um julgamento reto, uma consciência leal; conquistar as qualidades que darão à esposa o sentimento de poder se abandonar com confiança à retidão e generosidade de seu marido. A esposa deve desenvolver em si todas as sensibilidades do coração; conquistar as qualidades de dona de casa e se mostrar apta a todos os atos que tornam amável e atraente o lar. Um e outra deveriam preparar-se para bem educar seus filhos, devotando-se durante a sua adolescência, às obras de formação da juventude.
III – A ESCOLHA
1- Da escolha depende o futuro
A escolha do esposo e da esposa é de importância primordial, porque não se pode esquecer que compromete definitivamente o futuro. Dessa escolha depende a felicidade ou infelicidade do futuro lar, a vida moral e espiritual da família.
2- Não confundir qualidades físicas e qualidades morais
A escolha pode ser deformada de várias maneiras. Primeiro, porque preocupam-se mais com as qualidades físicas do que com as qualidades morais. O gosto que se tem em presença de uma “bela pessoa” tira ao espírito a liberdade de exame e julgamento; impede ver a pessoa tal como é, com suas qualidades e defeitos; leva-nos a esquecer que as satisfações dos sentidos são variáveis e inconstantes e que a felicidade reside mais na união dos corações e das vontades, cuidadosas de um mesmo ideal moral.
3- A situação financeira não substituirá nunca o amor
As considerações de dinheiro, as vaidades sociais não são menos perigosas quando se trata de se unir para sempre. Ao ter em vista problemas de dinheiro e de situação financeira, quando se trata de fundar um lar, os esposos estão se preparando para as piores desilusões, se decidirem pelo matrimônio para satisfação de simples vaidades sociais ou amor ao dinheiro, sem preocupar-se de pôr em primeiro plano as considerações morais, fundamento do amor conjugal.
4- Pôr em primeiro plano o valor moral da pessoa
Se a atração física deve ter sua parte na escolha do cônjuge, o valor moral da pessoa deve ser colocado sempre em primeiro plano. Por isso, esclarecimentos sérios e seguros devem preceder a decisão final.
5- Necessidade de um estudo aprofundado
É necessário que os pais ou, na sua falta, pessoas de toda confiança, ajudem seus filhos a se esclarecer, sobre os antecedentes dos candidatos e de sua família, do ponto de vista moral e religioso. Não devem negligenciar a questão da saúde. Ninguém tem direito, numa questão de que dependem futuras exigências, de agir sem rodear-se de todas as garantias possíveis e sem assegurar-se das aptidões morais e físicas da pessoa para a criação de uma família sadia. Não é raro que pessoas sem escrúpulos, querendo casar, disfarcem mais ou menos seus verdadeiros sentimentos.
6- A família – O meio social
Ainda que não se case com a família e o meio social da pessoa escolhida, seria agir com grande imprudência decidir-se a casar sem estar previamente assegurado de que os hábitos de seu meio e sua educação não serão de natureza a provocar conflitos e incompreensões.
7- Harmonias secundárias
Mas, se para o bom entendimento se exige, antes de mais nada, a compreensão mútua, há contudo harmonias secundárias que seria perigoso desprezar. As diferenças de meio social, de educação recebida e a desproporção de fortunas são outros tantos elementos que podem provocar dificuldades e desentendimentos que perturbarão o desembaraço das relações quotidianas. Seria erro psicológico crer que o amor se basta a si mesmo, e que as dificuldades da vida não podem exercer sobre ele nenhuma influência para o bem ou para o mal.
8- A harmonia exige um ideal comum
Uma das condições essenciais para a boa harmonia conjugal é a comunhão de ideal moral e de convicções religiosas. Antes de comprometer-se pelos laços do matrimônio, os interessados deveriam sempre assegurar-se de que existe concordância na sua maneira de encarar os grandes problemas da vida. Nunca poderão estar de acordo os que encaram a vida comum como divertimento com os que a consideram como vocação; os que não partilham os mesmos princípios de moral conjugal; os que têm convicções religiosas com os que não as têm. Se os esposos não querem ver surgir-lhes desacordos trágicos e sofrimentos sem saída, precisam, antes mesmo do matrimônio, se colocar de acordo nas grandes diretivas de seu ideal conjugal e familiar. Uma mesma direção moral é o fundamento mais seguro para o bom entendimento conjugal. Amar é orientar-se juntamente no presente em direção a um ideal cuja realização se procura em comum.
9- Este ideal é especialmente necessário quando se tratar de educar os filhos
O problema de concordância das convicções morais e de crenças religiosas ganha toda sua importância quando se trata da educação dos filhos, e da influência a exercer sobre suas consciências. Quantas divisões dramáticas quando, cada um dos esposos, pretende passar para as almas dos filhos convicções contrárias às de seu cônjuge.
10- Os caracteres
Apesar dos preconceitos correntes, cremos que o matrimônio entre pessoas de caráter diferente, até mesmo opostos, nem sempre é de se desaconselhar. Não é raro que caracteres diferentes sejam complementares e se harmonizem na mesma medida em que necessitam um do outro.
11- Matrimônio de coração ou matrimônio de razão
É preciso opor os matrimônios de “coração” aos matrimônios de “razão”? Certamente que não, porque seria deixar entender que, de um lado, o coração tem o direito de ser insensato e que, por outro lado, a razão pode decidir-se independentemente dos sentimentos. Os matrimônios que apresentam as maiores probabilidades de sucesso são aquele em que coração e razão se compreenderam e se entenderam harmoniosamente. O matrimônio não é uma loteria, mas um ato livre, no qual, após ter rezado a Deus e examinado todas as circunstâncias, a vontade se decide com pleno conhecimento de causa.
IV – LEIS DO AMOR CONJUGAL
1- Há uma moral de vida conjugal
É preconceito corrente que, após receber o sacramento do matrimônio, os esposos tenham o direito de se comportar como bem lhes parece, e que não estejam submetidos a nenhuma obrigação moral especial.
2- Responsabilidades da união conjugal
De todos os atos humanos, o amor é um dos que implicam mais responsabilidades pessoais e sociais. Se todos os atos humanos dependem da lei moral, como poderia este ser exceção? Não é da maneira como nos comportamos em face do amor que depende a felicidade ou infelicidade do outro? E não é no seio da união conjugal que as potências geradoras assumem sua significação moral para o bem ou para o mal?
3- Leis do matrimônio – A fidelidade
Quais são, então, as leis do amor conjugal? A primeira é a fidelidade. Os que pretendem que existe o direito de se conciliar o amor e a infidelidade, dariam, por isso mesmo, prova de que não amam sinceramente. É para assegurar a sinceridade do dom que um faz ao outro fazem, marido e esposa, que o matrimônio está declarado indissolúvel. Esta indissolubilidade ajudará os cônjuges a triunfar das vicissitudes, dos sofrimentos e das tentações da vida. Fidelidade e indissolubilidade estão intimamente ligadas. A fidelidade é não só possível, mas relativamente fácil para cônjuges que, durante sua adolescência viveram castamente, para os que têm convicções religiosas e se aplicam, no decorrer de seu amor, em afastar ocasiões de fraqueza, em dominar os egoísmos da natureza, em destruir em si os defeitos susceptíveis de comprometer a boa harmonia conjugal.
4- A infidelidade não rompe a união conjugal
Isso não quer dizer que as paixões humanas não possam provocar, por vezes, a infidelidade de um ou outro dos esposos. A infidelidade, apesar do que dela pensam os partidários do divórcio, não dá nenhum direito ao esposo lesado romper suas promessas. A falta de um dos cônjuges não autoriza o outro a cometer uma falta semelhante, quebrando o laço que tinha consentido livremente ao se casar.
5- Condenação do divórcio
O divórcio está, assim, em oposição formal às leis da união conjugal. O fato de ser aceito pela lei civil em nada muda seu caráter de imoralidade. O legislador não pode mudar, à sua vontade, leis morais que devem, normalmente, presidir às promessas mútuas dos esposos no matrimônio.
6- Lei da unidade
À lei de fidelidade e de indissolubilidade vem se juntar a de unidade do laço conjugal, a saber, que o matrimônio não é concebível senão entre um único homem e uma única mulher. O casamento repetido entre divorciados não passa de poligamia disfarçada.
7- União conjugal e procriação dos filhos
Abordamos aqui o difícil problema da castidade conjugal, quer dizer, das regras morais que devem presidir à união dos esposos. Basta que consideremos o plano de Deus fora de qualquer ideia preconcebida, para concluir que a união dos sexos tem como fim principal e primeiro a continuação da espécie. Ainda que haja entre marido e esposa elementos de união espiritual aos quais teremos de voltar, não se pode perder de vista que a primeira conseqüência do dom que mutuamente se fazem um ao outro, não somente de seu coração mas também de seu corpo, deve incluir a aceitação leal das conseqüências que resultam naturalmente disto, a saber, a concepção eventual de filhos.
8- Os filhos devem nascer no seio da família
No pensamento de Deus, nunca os filhos devem nascer de uma aventura passageira. Os infelizes que nascem nestas condições são as vítimas do egoísmo humano. Deve presidir ao nascimento e educação dos filhos uma união sincera e duradoura. Por isso, a instituição do matrimônio se confunde com a da família. Mas, no seio da vida conjugal, levantam-se certos problemas que os esposos devem encarar com sinceridade, se querem que Deus abençoe seu lar e se estão decididos a evitar faltas que os afastariam da vida e da perfeição cristã.
Continuar lendo AQUI.
Fonte: Blog Grande Guerra