A verdade mais mal compreendida pelos homens de hoje, pelo menos a julgar da atitude habitual deles, e a verdade que é a mais fundamental para vocês, é a relação da mulher com Deus. A mulher vem de Deus; ela deve a Ele sua existência, as características da sua natureza, suas tarefas na terra, e o destino eterno que coroará o cumprimento fiel da sua missão. Essa verdade, que a própria razão por si mesma pode nos ensinar, adquire na luz da fé sua significação completa e uma certeza absoluta que lhe emprestará apoio indispensável quando vocês forem expostas ao declínio e ao fluxo de ideias que os romances, os filmes, os palcos continuamente difundem entre as massas, enquanto lhes dá uma ideia profundamente distorcida da feminilidade.
Vocês sabem tão bem o que a fé Católica ensina com relação à origem do homem e da mulher, que seria infrutífero expor isto em detalhes. Deus os criou ambos à imagem e semelhança Dele, quer dizer, como seres inteligentes, livres, capazes de conhecê-lo e amá-lo, capazes também de perpetuar sua espécie, dominando a criação e usando-a para o seu próprio bem e no serviço Dele. Essa origem divina do ser humano simplesmente não é um fato do passado, de milhares de anos atrás, mas é também um fato muito atual, uma realidade de todo instantâneo, porque em cada momento Deus dá existência a todo ser humano, imprime em sua inteligência o sinal de Sua presença, coloca em seu coração uma atração invencível para o bem, para o absoluto, para a felicidade perfeita. O senso inteiro de vida humana pode ser resumido nas palavras: “uma busca por Deus” – uma procura por Ele, que chama suas criaturas incessantemente, para derramar copiosamente nelas ainda mais a plenitude da Sua vida e do Seu amor.
Qual atitude o mundo moderno adota com respeito a essa verdade fundamental da origem divina do homem e da mulher? Vocês sabem, pela experiência direta que vocês têm de seu ambiente e das várias investigações sobre as condições da mulher, empreendidas pelas organizações de mulheres em partes diferentes do mundo. A ideia de Deus parece quase supérflua em um mundo que caiu nas mãos dos homens, no poder da ciência e da tecnologia, e do qual foram eliminados a superstição e os credos incômodos. Essa atmosfera de um ateísmo militante ou latente é uma ameaça mais grave para a mulher do que para o homem, tanto na vida pessoal quanto no papel dela na sociedade. A razão que nós sublinharemos ainda mais logo depois é esta: pela sua disposição inata e a função para as quais ela é destinada por natureza, a mulher está mais em harmonia com as realidades espirituais; ela as percebe com mais facilidade, ela as vive mais conscientemente, ela as interpreta e as faz tangíveis para outros, em particular para aqueles de quem, como esposa e mãe, ela é encarregada. Sua dignidade pessoal, o respeito devido a ela flui precisamente do desejo para salvaguardar essa missão espiritual, e então, na análise final, da proximidade dela com Deus. O respeito pela mulher e o reconhecimento do seu verdadeiro papel está intimamente ligado às convicções religiosas do grupo social ao qual ela pertence.
Vocês veem, então, qual é o objetivo primário de seu apostolado a serviço da verdade: restabelecer em toda sua integridade a fé em Deus, porque Deus é a fonte de sua existência e o último fim para quem que vocês tendem, e porque a marcha para melhorar a condição da mulher supõe como sua primeira fase, a afirmação do princípio que é sua garantia.
Deus não só tem dado à mulher a sua existência, mas a personalidade feminina também, em sua composição física e psicológica, corresponde a um desígnio especial do Criador. O homem e a mulher são imagens de Deus, e cada um de sua maneira própria é pessoa de igual dignidade e possui os mesmos direitos, de forma que é impossível sustentar que a mulher é de qualquer forma inferior. Na realidade, ela é chamada para colaborar com o homem na propagação e desenvolvimento da raça humana e assume nisso o papel delicado e sublime de maternidade: isso traz consigo alegrias e sofrimentos de intensidade incomum, porque implica a responsabilidade imensa de trazer uma criança ao mundo, protegendo, nutrindo, assistindo o crescimento e a educação dela, acompanhando-a com cuidado durante o período difícil da adolescência e assim preparando-a para suportar as responsabilidades de um adulto. Por conseguinte Deus concedeu à mulher dons de valor inestimável que lhe permitem não só transmitir a vida física, mas também as disposições mais íntimas de alma e qualidades da ordem espiritual e moral que determinam o caráter. A pesquisa psicológica moderna colocou em suficiente relevo a complexidade e a originalidade da natureza feminina. Não é necessário enfatizarmos isso. Nós também notamos que essas mesmas qualidades exercitam uma função feliz em todas as outras esferas de reunião social e vida cultural; elas trazem até mesmo uma contribuição indispensável, e a civilização que não as compreendeu ou excluiu sua influência inevitavelmente sofreu deformações mais sérias que impediram seu desenvolvimento e as condenou cedo ou tarde à esterilidade e ao declínio.
Enquanto a mulher dá expressão geralmente à doação de si mesma no matrimônio, através da maternidade, ela também pode corresponder ao plano divino de uma maneira mais direta, e fazer suas riquezas espirituais darem fruto na virgindade consagrada que, longe de ser um isolacionismo ou uma retirada em face às responsabilidades da vida, satisfaz o desejo para um mais total, mais puro, mais generoso dom de si mesma. Em países Cristãos, como também em terras de missão, a mulher que renuncia ao matrimônio para se dedicar sem obstáculo ao alívio do doente e infeliz, para a educação de crianças, para a melhoria das condições da família, manifesta desse modo para mentes imparciais a ação e a presença de Deus. E assim ela cumpre sua verdadeira vocação com a maior fidelidade e eficácia.
Fonte: Blog a Grande Guerra