Vocação ou Profissão: o que vem primeiro?

28 01-2016
Vocação ou Profissão: o que vem primeiro?

Vocação ou Profissão: o que vem primeiro?

Por Julie Maria
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No primeiro artigo da série “Vocação feminina” que teve por título: “19 anos: casar ou começar a faculdade?”[1] – escrevi sobre o que eu teria feito aos 19 anos se tivesse o conhecimento das coisas como a tenho hoje, quase 20 anos depois. O tema gerou um saudável debate nos comentários o que mostra a necessidade de se falar sobre ele.

Os comentários ao meu artigo dividiram-se basicamente em dois grupos que podem ser resumidos assim:

1º grupo: “Graças a Deus eu estou casando nova e começando minha vida familiar agora(perto dos 20 anos).”

2º grupo: “É possível cursar faculdade, trabalhar fora e cuidar dos filhos, sem precisar renunciar um ou ao outro.”

A realidade mostra que sim, é possível cursar faculdade, trabalhar e cuidar dos filhos, pois é isso o que já estão fazendo a maioria das mães. A pergunta que nos cabe não é se isso “dá para fazer”, mas sim:

– Esse é o plano de Deus para nós, mulheres?

– Isso gera felicidade para o coração feminino?

– Quais os frutos na família, na sociedade e para a nossa salvação eterna desta divisão interior que a mulher sofre por causa do trabalho fora do lar e sua missão no lar como dona de casa, esposa e mãe?

Se na mídia a ideologia feminista ainda parece ter forças, nos corações femininos já existe um profundo questionamento: será que a “emancipação feminina não é um contrato que precisa ser renegociado?”[2].

Porque digo isso? Eu poderia responder citando a pesquisa norte-americana que atesta: “jamais as mulheres tiveram tanto; jamais foram tão infelizes.” Mas eu não preciso da estatística. Basta que eu olhe ao meu redor e tenha a coragem de analisar com sinceridade a minha própria história. Que nossa geração não tenha sido educada para a maternidade é hoje causa de muita infelicidade, frustração, divisão e incertezas.

Mesmo sem reconhecer é esta problemática que está atrás do artigo do The New York Time: “Estressada, apressada, cansada: eis o retrato da família moderna”[3]. A razão da família moderna estar assim é muito simples: quando a alma da família – aquela que lhe dá a vida, o calor, o aconchego, enfim que transforma a casa de tijolos num autêntico lar – está fora dela, a família entra em agonia mortal e logo se transforma num cadáver. E a alma de cada família, sabemos bem, é a mãe.

Mas, por que torna-se tão difícil enxergar algo tão óbvio? Porque está em andamento uma engenharia social que tem a meta de destruir a família e a forma mais fácil é expulsar aquela que era dona da casa, ou na terminologia católica Rainha do Lar. Sim, a mulher acreditou na mentira comunista/feminista de que saindo do domínio seu lar e trabalhando fora dele, ela seria libertada.[4]

E agora, depois de algumas décadas deste engano, o que sobrou? Ruínas. Raramente vemos uma família feliz. Encontramos muitas famílias completamente destruídas e algumas tentando se reerguer.

É curioso que enquanto o mundo acha absurdo que Deus, por amor e para nossa felicidade nos ordene algo – sermos mães educadoras e trabalhadoras do lar[5], o mundo não acha ridículo que homens e mulheres, criaturas pervertidas e deprevadas, se arroguem o direito de nos ditar como pensar e o que fazer.

Com duas citações fundamento o que afirmei:

1) A feminista Simone de Beauvoir disse:

 

“Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa e educar suas crianças. A sociedade deveria ser totalmente diferente. A mulher não deveria ter esta escolha, precisamente porque se houver tal escolha, muitas mulheres se decidirão por ela”.

 

2) F. Engels, um dos fundadores do comunismo:“A primeira condição para a liberação da mulher é levar toda a população do sexo feminino a entrar no mercado de trabalho e, por sua vez, isso exige a extinção da família tradicional como a base econômica da sociedade… Quando todos os meios de produção são colocados debaixo da autoridade do governo, a família deixa de ser a base econômica da sociedade. O trabalho doméstico é socializado. A criação e a educação das crianças se tornam responsabilidade da sociedade em geral, e o governo cuidará de todas da mesma forma, quer sejam legítimas, quer não.”[6]

Estas citações mostram apenas o início da engenharia social que fez uma completa lavagem cerebral nas mulheres. Mas não lhes bastam estas citações para você enxergar quanta ilusão é a “liberdade” que te venderam com estas cartilhas comunistas-feministas?

No site Maeatwork o testemunho da Alessandra representa o dilema de milhares de mães, mães que eu gostaria de poder ajudar com este artigo. Parafraseio o que ela diz: Quero ficar com meus filhos, mas quero a minha independência financeira. E agora, volto ou não a trabalhar fora?[7]

A resposta é fácil de escrever mas não é fácil de praticar pois estão (e eu também estava) impregnadas desta maldita mentalidade que distorce a altíssima vocação da maternidade e, como esclarece Mary Pride: “os indivíduos que estão atacando o nosso papel de mães tem em mente um novo papel que gostariam de impor-nos”. Com creches, escolas e atividades extra-curriculares o papel da mãe não precisa ser mais integral – advogam eles – e “cada cidadão deve ser totalmente dedicado ao desempenho de uma ocupação do mercado de trabalho”[8].

O que você pensa hoje sobre a sua maternidade e as dúvidas como a da Alessandra não é fruto da casualidade mas sim fruto de um plano muito bem arquitetado por pessoas que dedicaram suas vidas para te convencer que ser mãe era secundário e que antes disso, você deveria preocupar-se em estudar faculdade, arrumar um emprego, casa, carro e ter um ótimo salário. Depois, quem sabe perto dos 35, você poderá renunciar a toda esta esplêndida liberdade e se escravizar ao começar a pensar na possibilidade de ser mãe…[9]

“Porque as mulheres continuam sem poder ter tudo” é justamente o título do artigo mais lido do site “The Atlantic”. Escrito por Anne-Marie Slaughter, a primeira mulher a ser diretora da Política de Planejamento do Departamento de Estado, ele chocou o mundo obssessionado com o “sucesso profissional” quando afirmou algo óbvio: “o malabarismo de um alto cargo no governo não era possível com as necessidades de dois adolescentes…[10], mas infelizmente ainda cega para a diferença essencial entre o pai e a mãe, agora sua causa é fazer que seja normal os pais ficarem cuidando dos filhos em tempo integral.

Eis aqui a luz do Evangelho que desejo apresentar para ajudar a Alessandra e a tantas mães a tomarem uma decisão sábia:

A maternidade não é uma função ou uma profissão que nós escolhermos e sim uma vocação divina que nos acolhemos.

Vocação vem do termo vocare, que significa chamado. Toda mulher é chamada por Deus a ser mãe – mãe de família ou mãe espiritual – e tanto uma como outra tem a nobre e árdua missão ajudar os seus filhos a alcançar maturidade e felicidade pessoal. Você consegue identificar algo mais elevado?

Por isso, ao ler os vários comentários referentes ao meu primeiro artigo, notei claramente a falta de entendimento – inclusive entre as cristãs – sobre o que significa que nós, mulheres, sejamos chamadas a acolher a vocação materna dada por Deus.

Enquanto a ateia feminista Simone de B. escreve que “o trabalho da mulher dentro do lar não é diretamente útil para a sociedade [porque], não produz nada”, o Criador do universo nos eleva a uma glória incomparável ao dar-nos o poder de gerar e educar – como argilas a serem moldadas – aqueles que estão chamados, desde toda a eternidade, a viver na visão beatífica com Ele! Existe algum bem produzido comparável a este? Para um cristão, não, não há.

A maternidade, reitero, não é mais uma opção entre as profissões.

A maternidade é ontologicamente anterior a qualquer profissão pois ela vem diretamente de Deus, antes mesmo de termos sido concebidas. Somente quando enxergarmos claramente que Deus nos chamou para lidar com pessoas e não tanto com coisas, veremos por que a realização pessoal da mulher consiste em formar os seus próprios filhos e como isso é mais poderoso do que qualquer profissão do mundo.

Justamente porque a mulher moderna não está inclinada a ver a sua realização pessoal em ficar grávida, dar à luz, e educar os seus próprios filhos ela vive uma profunda infelicidade, até que se reconcilie com o plano divino para ela.

É partir da compreensão da vocação feminina ser essencialmente maternal – vivida na da religiosa ou vida matrimonial – que surgirá corretamente o tema da profissão. Pensar na profissão sem levar em conta a vocação é se frustrar: a ordem está invertida. A profissão deve surgir como fruto do discernimento vocacional e deve estar intimamente relacionado a ele.

O Pai Celeste, ao nos criar no sexo feminino, não nos dá apenas um corpo ou cérebro feminino com o poder de gerar e amamentar fisicamente mas nos dá uma vocação espiritual: formar almas amigas de Deus. Que esta, considerada pela Igreja como a arte das artes seja uma missão confiada em primeiro lugar a nós, mães, mostra quão valiosas somos aos olhos do Pai.

Quando a Igreja nos ensina que é necessário colocar “em toda a obra educativa, a diferença sexual e o fim próprio atribuído pela Providencia divina a cada sexo na família e na sociedade”[11] ela está indo na raiz do problema e oferecendo a cura para os males da nossa época.

A felicidade jamais se encontra revoltando-se contra o amoroso e infinitamente sábio desígnio do Pai, mas caminhando em sua direção. Se nossa sociedade se preocupasse tanto com a vocação como se preocupa com a profissão seríamos mais felizes. É nossa responsabilidade como educadoras formar uma geração de moças preparadas para a vivência plena da maternidade, começando por nossas filhas. Esta é a melhor e mais alta contribuição que podemos dar às nossas famílias e à sociedade.

Para acolher a verdade de que o homem constrói a casa e a mulher forma o lar convido cada uma de vocês a mergulhar no oceano da Misericórdia Divina, suplicar a intercessão maternal de Nossa Senhora, e tornar-se aluna de Santa Zélia, uma vida na qual vocação e profissão foram vividas em Deus, dando muitos frutos e o maior deles, ter sua família no céu!

[1] Artigo aqui.
[2] Frase da mãe e profissional Claudia, da TV Claudia. Vale a pena ler a entrevista: revista ÉPOCA.
[3] Artigo aqui.
[4] Cf. Padre Paulo: “Feminismo: pior inimigo das mulheres” e “Mão invisível que destrói famílias
[5] Tito 2, 5. Indico o livro da Mary Pride “De volta ao lar” que pode ser comprado na Associação Pró-Vida de Anápolis ou baixado aqui para uma meditação bem completa sobre esta citação bíblica. Apesar de ser protestante a autora o livro conta com o apoio de divulgação de um sacerdote católico muito rigoroso com a doutrina: Padre Luis Carlos Lodi da Cruz.
[6]  Link aqui.
[7] Maeatwork
[8] Mary Pride, De Volta ao Lar, Edições Cristãs, p. 74
[9] Artigo: “Quantos filhos ter?” 
[10] The Atlantic “Why women still can’t have it all” by Anne-Marie Slaughter
[11] CVII, Declaração sobre Educação, Sec. 8, par.3. grifo meu

 

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