– Eu meditar?!
– E por que não? Meditar é conversar com Deus, é refletir sobre as verdades da Santa Religião, é conhecer-se mais a si mesmo, é tomar boas resoluções, é antecipar a ocupação celestial, e isto te poderá ser alheio?
– Mas é costume só de clérigos e religiosos.
– De fato, é costume, porque os sacerdotes e os religiosos prezam realmente a garantia de sua salvação eterna e seu progresso espiritual. Se, porém, eles, afastados dos perigos do mundo, julgam necessária a meditação, quanto mais indispensável se torna ela aos seculares, tão expostos ao esquecimento dos deveres cristãos!
– Mas não é uso fazer meditações.
– Sim, não é uso geral. Quem estranhará isto? Não disse Jesus: “Muitos são chamados, mas poucos serão escolhidos”? Quem seguir as máximas e os costumes do mundo, verá um dia, com grande susto, que não caminhou no trilho estreito que leva ao céu, e sim na estrada larga que desemboca na eterna perdição.
– A meditação parece coisa dispensável.
– Pelo contrário. O céu não é fruto que por si caia na boca de quem o quer. para empregar séria e constantemente os meios de salvação da alma, é preciso muita e muita reflexão, que faça compenetrar-se da indiscutível verdade: Só uma coisa é necessária!
– Ainda que quisesse meditar, falta-me tempo.
– É sério? Deus acaso foi injusto contigo, não te concedendo o tempo para te salvares? Oxalá que francamente confessasses que só para a meditação e outras obras de piedade te falta tempo; que este não falta para o descanso, o recreio, a diversão, a satisfação da própria vontade e, às vezes, o pecado. Ninguém te pede negligenciar trabalhos e obrigações; antes, a meditação, ainda que feita só por minutos, te fará ser mais pontual no cumprimento de todos os deveres.
– Mas não posso; falta-me a prática, ocorrem-me mil distrações.
– Deus exigirá de ti o que não podes? Ao filho amoroso não custa pensar no pai, e tu serias incapaz de conversar com Deus? Pensar em seus benefícios, na encarnação, vida e morte de Jesus? Nos últimos momentos que te esperam: morte, juízo, inferno ou céu? – Não te assustem as distrações. O demônio não se oporia ao que te traz vantagens inestimáveis?… Para que Deus te ajude e conforma-te com sua santa vontade, quer te deixe saborear as doçuras de sua presença, quer te prove por aparente desamparo.
– E como poderei meditar?
– Se não preferes outro método, poderá servir-te o seguinte:
1. A Preparação
a) Põe-te vivamente na presença de Deus, teu Criador e Pai, Salvador e Juiz.
b) Invoca com humildade e fervor o Espírito Santo.
c) Faze atentamente a respectiva leitura.
2. A Meditação
a) Procura afundar-te nas verdades apresentadas, conhece o que te falta, e compara o seu proceder com o de Jesus e dos Santos.
b) Afetos salutares serão a consequência natural do precedente exercício; arrepende-te do passado, aspira a esta ou àquela virtude, aumenta o justificado receio do inferno, o desejo do céu e a confiança na divina misericórdia. É útil te demorares nesses afetos.
c) Faze poucos, mas bem determinados propósitos.
3. A Conclusão
a) Agradece a Deus, que se dignou falar a teu coração.
b) Oferece-lhe tua vida, corpo e alma.
c) Pede seu auxílio para executares os propósitos e implora a intercessão de Nossa Senhora, do Anjo da Guarda e dos Santos.
– Achas difícil tudo isto? Experimenta; a prática te ensinará. Um ignorante, dotado de boa vontade, conseguirá fazer meditações mais úteis do que os instruídos que em si mesmos confiarem.
Medita, e viverás!
Fonte: Frei Pedro Sinzig OFM e seu livro Meditações Diárias para todos os Dias do Ano