Somos arrebatados pela verdade
Trecho da homilia do Papa Bento XVI
Se lemos hoje, por exemplo, na Carta de Tiago: «Sois gerados por meio de uma palavra de verdade», quem de nós ousaria alegrar-se com a verdade que nos foi concedida? Vem-nos imediatamente a pergunta: mas como se pode ter a verdade? Isto é intolerância! Hoje, a ideia de verdade e de intolerância estão quase completamente fundidas entre si, e assim já não ousamos crer de modo algum na verdade ou falar da verdade. Parece que está distante, parece algo ao qual é melhor não recorrer. Ninguém pode dizer: tenho a verdade — esta é a objecção que se faz — e, justamente, ninguém pode ter a verdade. É a verdade que nos possui, é algo vivo! Nós não somos os seus detentores, mas somos arrebatados por ela. Se nos deixarmos guiar e mover por ela, permaneceremos nela; se estivermos com ela e nela, se formos peregrinos da verdade, então ela estará em nós e por nós. Penso que devemos aprender de novo este «não-ter-a-verdade». Como ninguém pode dizer: tenho filhos — não são uma nossa posse, são um dom, e como dádiva de Deus, são-nos dados para uma tarefa — assim não podemos dizer: tenho a verdade, mas foi a verdade que veio a nós e nos impele. Devemos aprender a fazer-nos mover por ela, a fazer-nos conduzir por ela. E então ela voltará a resplandecer: se ela mesma nos conduzir e nos compenetrar.