Ser pai, ser mãe não é simplesmente “ser amigo”
Trecho do Discurso de JPII
Hoje, sobretudo nas nações economicamente mais abastadas, difunde-se por um lado o medo de ser pais e, por outro, o desprezo pelo direito que os filhos têm de ser concebidos no contexto de uma doação humana total, o que é um pressuposto indispensável para o seu crescimento sereno e harmonioso.
Assim, confirma-se um presumível direito à paternidade-maternidade a qualquer custo, cuja realização se procura através de mediações de caráter técnico, que comportam uma série de manipulações moralmente ilícitas.
Uma ulterior característica do contexto cultural em que vivemos é a propensão de não poucos pais a renunciar ao seu papel para assumir aquele de simples amigos dos filhos, abstendo-se de admoestações e correções, mesmo quando seria necessário proceder assim para educar na verdade, sem renunciar a todo o afeto e ternura. Consequentemente, é oportuno sublinhar que a educação dos filhos constitui um dever sagrado e uma tarefa solidária dos pais, tanto do pai como da mãe: exige a amabilidade, a proximidade, o diálogo e o exemplo. Os pais são chamados a representar no lar o Pai bom dos céus, o único modelo perfeito em que se inspirar.
Por vontade de Deus mesmo, paternidade e maternidade apresentam-se numa relação de íntima participação no seu poder criador e, por conseguinte, têm um intrínseco relacionamento recíproco. A este respeito, escrevi na Carta às Famílias: «A maternidade implica necessariamente a paternidade e, vice-versa, a paternidade implica necessariamente a maternidade: é o fruto da dualidade obsequiada pelo Criador ao ser humano, desde “o princípio”» (Gratissimam sane, 7).
É também por este motivo que o relacionamento entre o homem e a mulher constitui o fulcro dos vínculos sociais: enquanto é manancial de novos seres humanos, este une estreitamente os cônjuges entre si, os quais se tornam uma só carne e, por meio deles, as respectivas famílias.